O ceratocone é uma doença que na maioria dos casos tem seu início ainda durante a adolescência.
Estima-se que o número de casos de ceratocone seja de cerca de 100 para cada 100.000 pessoas.
Ou seja, um número grande de casos que muitas vezes se desenvolvem de maneira silenciosa.
Por isso preparamos esse artigo completo com tudo o que você precisa saber sobre o ceratocone para que possa identificar o menor sinal de problemas e procurar ajuda especializada.
O que você encontrará neste post:
O que é ceratocone?
O Ceratocone é uma doença ocular que afeta o formato e a espessura da córnea, provocando a percepção distorcidas de imagens. Ele se desenvolve geralmente na adolescência, e progride até os 35 a 40 anos de idade. É uma doença que afeta de 1 a cada 1000 pessoas.
Sua progressão normalmente é lenta, porém é impossível prever quão rápido irá progredir, ou mesmo se realmente progredirá em um determinado caso.
Os jovens com Ceratocone em escalas avançadas têm maior chance de progressão. Após os 35 anos de idade a doença se estaciona, na maioria dos casos.
Em mais de 90% dos casos o ceratocone acomete os dois olhos, entretanto, um dos olhos geralmente é mais afetado que o outro. Homens e mulheres são afetados na mesma proporção.
As causas específicas ainda não são conhecidas, mas a origem mais provável é a genética. Apesar disto, somente 20% dos pacientes com ceratocone tem alguém na família com a doença. Quando não existirem casos na família, a probabilidade dos filhos terem ceratocone é menor que 15%. Os pacientes que apresentam predisposição e tem o hábito de coçar os olhos, geralmente vão ter uma doença mais precoce e mais avançada. O ato de coçar os olhos altera a composição das enzimas na córnea, o que reduzem ainda mais sua resistência.
O que pode causar o ceratocone?
Mesmo com todo o avanço científico e tecnológico ainda não se chegou a uma conclusão sobre as causas do ceratocone.
Ainda que muitos especialistas afirmem que a predisposição genética está entre as principais causas dessa deformidade, esse pensamento não é unanime.
Isso se deve ao fato de que, mesmo que ocorra uma predisposição genética; se o paciente não tiver outro fator externo concomitante, ou seja, ativada por fatores específicos (ex: alergia), ele pode não desenvolver essa alteração nos olhos.
Fatores de risco do ceratocone
Ainda que não exista consenso sobre as causas do ceratocone, diversos fatores podem contribuir para o surgimento da doença.
Os principais fatores de risco do ceratocone são:
- Coçar os olhos com frequência e força excessiva;
- Ser portador de condições como Síndrome de Down, asma, rinite alérgica e síndrome de Ehlers-Danlos;
- Casos de ceratocone na família.
Pode-se afirmar que 100% dos pacientes com ceratocone são alérgicos, porém nem todos os pacientes alérgicos possuem ceratocone; neste caso entra-se o fator genético associado.
Ceratocone é genético?
Apesar de não haver um consenso sobre as causas do ceratocone, sua hereditariedade é aceita por grande parte dos especialistas.
Isso porque em muitos casos existe um histórico da doença na família dos pacientes.
Ceratocone é grave?
Como se trata de uma condição que pode trazer prejuízos sérios à visão do paciente, o ceratocone pode ser considerado grave.
Afinal, dependendo do seu estágio a baixa acuidade visual pode limitar muito as atividades do indivíduo.
Como é um olho com ceratocone?
Num primeiro momento pode ser difícil identificar que uma pessoa é portadora do ceratocone.
Isso devido ao afinamento leve que ocorre na córnea, principalmente em seus estágios iniciais.
Com o passar do tempo, esse afinamento vai se acentuando cada vez mais, fazendo com que a córnea, que antes tinha um formato curvo, passe a ter um formato cônico.
Ainda assim, a identificação do problema pode acontecer apenas quando o indivíduo movimentar os olhos para baixo.
Nesse momento, dependendo do estágio da doença, é possível que a córnea pressione a pálpebra para baixo, deixando claro que há algo de errado.
Sintomas
O principal sintoma do Ceratocone é a visão borrada e distorcida, tanto para longe quanto para perto. Alguns pacientes podem relatar diplopia (visão dupla) ou poliopia (percepção de várias imagens de um mesmo objeto), halos em torno das luzes, fotofobia (sensibilidade excessiva à luz) e coceira.
Na sua fase inicial, o Ceratocone apresenta-se como um astigmatismo irregular, levando o paciente a trocar o grau de suas lentes corretivas com maior frequência.
Então, em sua fase inicial, os sintomas mais comuns são:
- Maior sensibilidade à luz;
- Leve distorção na visão;
- Visão levemente desfocada.
Quando a doença atinge estágios mais avançados os sintomas podem ser:
- Ineficácia no uso de óculos;
- Visão bastante distorcida e embaçada;
- Surgimento ou aumento do astigmatismo e da miopia.
- Troca constante do grau.
O sinal de Munson é mais comum nos estágios muito avançados de ceratocone. Nesses casos, a córnea, que agora tem um formato cônico exerce pressão sobre a pálpebra. Assim, quando o indivíduo olha para baixo simultaneamente a pálpebra é pressionada na mesma direção. Com isso, se forma um sinal cônico característico desse estágio avançado da doença.
O diagnóstico definitivo desta patologia é feito com base nas características clínicas detectadas e em exames objetivos como a Topografia Corneana e a Paquimetria Ultrassônica.
Fases do ceratocone
A evolução do ceratocone normalmente acontece em quatro fases.
Fase 1
Em sua fase inicial o ceratocone apresenta sintomas leves, muitas vezes corrigidos apenas com o uso de óculos.
Fase 2
A córnea se torna mais saliente devido ao seu afinamento, que aumenta o astigmatismo do paciente e a mudança constante do grau.
Assim, esse grau de astigmatismo não pode mais ser corrigido apenas com o uso de óculos.
Nesse caso é necessário o uso de lentes de contato rígidas para devolver a clareza de visão do indivíduo.
Outros tratamentos podem ser implantados e associados a partir desta fase; como o ANEL INTRAESTROMAL e o CROSSLINK
Fase 3
Com a córnea já bastante comprometida, devido a sua saliência e irregularidade, às lentes de contato são as principais indicações para devolver a melhor qualidade visual.
Em diversos casos pode-se optar por uma lente gelatinosa por baixo da rígida, com o objetivo de dar mais proteção à córnea, reduzir a sensibilidade pelo paciente e dar suporte a lente rígida.
A lente rígida na parte externa sempre deve ser posta para que seja feita a correção do grau.
O ANEL INTRAESTROMAL pode ser associado juntamente com as lentes, para que seja melhorada a estrutura da córnea.
Fase 4
Nessa fase a visão se torna muito debilitada, seja pela opacidade da córnea ou pela impossibilidade de manutenção da lente no olho.
Quando o ceratocone atinge esse estágio, o mais recomendado é transplante de córnea.
Quem tem ceratocone pode ficar cego?
Como você viu anteriormente, é possível que a visão fique bastante prejudicada pelo desenvolvimento do ceratocone.
Ainda assim, dificilmente alguém perde completamente a visão em decorrência dessa condição. Mesmo assim, os prejuízos para a visão podem acabar impossibilitando a realização de muitas atividades rotineiras.
Como se obtêm o diagnóstico do ceratocone?
Para obter um diagnóstico preciso do ceratocone o oftalmologista deve realizar uma avaliação preliminar, que inclui:
- Avaliação do histórico familiar e médico do paciente;
- Realização do exame refratométrico, utilizado para medir o grau dos óculos;
- Ceratometria, que mede a curvatura da córnea.
Se nessa primeira avaliação já houver indícios de curvatura da córnea aumentada, o oftalmologista recomendará a realização de exames complementares.
Assim, o diagnóstico da doença pode ser muito mais preciso.
Quais exames são feitos?
Entre os exames complementares solicitados pelo especialista podem estar:
- Topografia Corneana;
- Paquimetria corneana;
- Tomografia corneana (Galilei – G2), sendo este o exame mais moderno e completo para diagnosticar o ceratocone, o estágio e as opções de tratamentos que podem ser propostos para o paciente.
O oftalmologista também realizará um estudo da superfície anterior e posterior da córnea para identificar se existe real necessidade de tratamento.
Dessa forma busca-se evitar o desenvolvimento da doença.
Tratamentos para ceratocone
Atualmente o tratamento do ceratocone possui diversas alternativas, dependendo do estágio da condição.
Nos casos onde a doença está em seu estágio inicial, apenas o uso de óculos pode resolver o problema para melhorar a acuidade visual, porém, conforme a doença avança são necessários outros recursos.
Independente do seu estágio, o objetivo do tratamento é impedir a evolução da doença e reabilitar a visão do paciente.
Independente do tipo de lente que você escolher, é preciso se certificar de que elas serão colocadas por um oftalmologista qualificado e com experiência em lentes de contato.
Além disso, é preciso fazer exames com frequência para confirmar a adaptação das lentes aos olhos.
Tratamentos não-cirúrgicos para ceratocone
Com o objetivo de proporcionar uma boa visão ao paciente e, principalmente, preservar a saúde da córnea, as alternativas de tratamento sempre são avaliadas na seguinte ordem: óculos, lentes de contato e cirurgias.
Óculos
A primeira alternativa para tratamento do Ceratocone é a prescrição de óculos. Na maioria dos casos, quando o astigmatismo irregular ainda é baixo, é possível obter uma acuidade visual aceitável.
Lentes de Contato
Quando os óculos não forem capazes de proporcionar uma acuidade visual satisfatória, a lente de contato é a próxima alternativa.
Geralmente utiliza-se a lente rígida gás permeável, que visa proporcionar uma melhor acuidade visual e, principalmente, assegurar a saúde fisiológica da córnea.
As lentes de contato mais indicadas para pessoas com ceratocone são:
- Lentes de contato rígidas: Podem ser um pouco desconfortáveis no começo, mas podem oferecer uma excelente visão, e muitos pacientes se adaptam muito bem a esse tipo de lente de contato. Hoje em dia existem lentes de contato semirrígida, personalizadas para cada tipo de deformidade, trazendo um conforto ao extremo para o paciente.
- Lentes de contato Piggy-back: Recomendadas para quem não se adapta muito bem as lentes rígidas. Consiste na colocação de uma lente rígida sobre uma lente gelatinosa.
- Lentes de contato gelatinosas tóricas: Nos casos de intolerância as lentes rígidas, uma opção para o estágio inicial do ceratocone, quando a visão se encontra distorcida ou embaçada.
- Lentes esclerais: Ao contrário das outras lentes, que repousam sobre a córnea, essa lente fica posicionada na parte branca do olho, a esclera, sem manter contato com a córnea. Indicada para casos onde o afinamento já está bastante avançado e também para a prática de esportes; pois ela adere mais ao olho tendo menor probabilidade de sair do olho.Oferece uma excelente qualidade visual.
- Lentes de contato híbridas: Alternativa para quem não se sente bem utilizando lentes rígidas, pois mescla um centro rígido com um anel externo macio, que proporciona muito mais conforto.
Tratamentos cirúrgicos para ceratocone
Crosslink
Consiste na ligação de colágeno corneano com a riboflavina.
É feita a remoção do epitélio (camada mais externa do tecido corneano) da região central da córnea, de forma a expor a superfície para aplicação de uma solução de riboflavina, que nada mais é que a vitamina B2, para aumentar a resistência mecânica da córnea. Com isso, há menor chance de progressão do ceratocone.
Transplante de Córnea
O transplante de córnea se torna necessário nos casos em que a correção visual não pode mais ser feita com o uso de óculos ou lentes de contato.
Isso se dá quando o afinamento da córnea se torna excessivo, ou cicatrizes corneanas resultantes do uso de lentes de contato tornam-se um problema frequente ou quando houver presença de leucoma (opacificação corneana) importante.
Implante de Anel Corneano
Uma alternativa cirúrgica para o transplante de córnea é o implante de segmentos de anel corneano (anel intra-estromal).
O procedimento, realizado em uma base ambulatorial com anestesia local, oferece o benefício de ser reversível e potencialmente substituível, uma vez que não envolve a remoção de tecido ocular.
Como é a cirurgia de ceratocone?
Quando alternativas como o uso de óculos e lentes de contato já não surtem mais efeito a cirurgia pode ser recomendada.
Existem três opções de procedimento cirúrgico que podem ser utilizados no tratamento do ceratocone dependendo do seu estágio do ceratocone.
Estes tratamentos, às vezes, podem ser associados paralelamente.
Cirurgia de Cross-linking
Busca tornar o tecido corneano mais forte e resistente através da combinação da vitamina B12(riboflavina) e raios UV-A.
Dessa forma, espera-se conter a evolução do ceratocone.
Anel Intraestromal
Esse procedimento cirúrgico tem vários pontos positivos no tratamento da doença.
Primeiro, por tornar a adaptação do paciente às lentes de contato muito mais confortável e com maior facilidade na adaptação; pois irá ser feito uma nova modelagem à córnea tornando-a menos curva.
Além disso, essa opção reduz a necessidade de um transplante de córnea, uma vez que torna possível a restauração da córnea afetada.
E ainda, melhora a visão do paciente através da colocação de um dispositivo que age achatando a curvatura da córnea.
Transplante de córnea
Recomendado apenas quando os tratamentos não têm mais efeito e os sintomas do ceratocone são graves.
Esse tipo de transplante pode ser realizado com duas técnicas diferentes:
PK (Transplante de córnea penetrante): Faz a remoção de todas as camadas da córnea;
DALK (Transplante Lamelar Anterior Profundo): Preserva a camada posterior da córnea do paciente.
Cada técnica tem a sua indicação de forma mais precisa; avaliando a necessidade de cada caso.
Quanto tempo demora uma cirurgia de ceratocone?
A cirurgia para tratamento do ceratocone é considerada rápida em comparação a outros procedimentos cirúrgicos.
Porém, sua duração depende do tipo de cirurgia que será realizado.
A colocação do anel intra estromal tem uma duração de mais ou menos 30 minutos, e os resultados já são vistos nos primeiros dias; ou seja, pouco depois da cirurgia o paciente já nota uma grande melhora na visão.
Já na cirurgia de cross-linking sua duração pode chegar à uma hora.
Por outro lado, os resultados são gradativos e demandam avaliações mensais nos primeiros três meses após a cirurgia.
O transplante de córnea também tem uma duração de mais ou menos sessenta minutos e demanda acompanhamento por um período mais prolongado.
Assim, é possível identificar uma possível rejeição, por exemplo.
Deixamos claro que cabe ao oftalmologista especialista em ceratocone avaliar qual a melhor conduta a ser tomada, e quando associar uma técnica paralela à outra.
Ceratocone tem cura?
Até o momento não existe uma cura para o ceratocone, mas ainda assim quem sofre com esse problema pode ficar tranquilo.
Afinal, existem várias opções de tratamentos disponíveis, que podem corrigir qualquer dificuldade causada por essa condição e mesmo paralisar o ceratocone sem que chegue a um transplante de córnea.
Assim, é possível conviver a vida inteira com o ceratocone sem que sua visão seja totalmente comprometida.
Podem surgir complicações do ceratocone?
A principal complicação pode acontecer nos casos onde o ceratocone já está em sua fase mais avançada.
Nesse momento pode ocorrer o rompimento da camada de Descemet, que por sua vez causa a hidropsia da córnea.
Isso significa que há a entrada de líquido no estroma, que causa o edema estromal.
Quando isso acontece os pacientes costumam relatar baixa súbita da visão, perda da clareza da visão, infecções e até dor no olho afetado
Assim fica caracterizado o ceratocone agudo.
É possível prevenir o ceratocone?
Infelizmente, é praticamente impossível se certificar que a doença não irá evoluir até sua fase mais avançada.
Apesar disso, é possível manter a vigilância caso qualquer sinal da doença se apresente.
Para isso, é preciso que a família esteja ciente do histórico familiar da doença, caso ele exista.
Dessa forma é possível identificar o problema, mesmo na ausência de sintomas.
Pacientes com predisposição devem evitar o ato de coçar e atritar os olhos.
Em caso de pacientes com alergia desde a infância, faz-se necessário o tratamento das alergias oculares frequentemente; para que o paciente não coce os olhos e não favoreça o aparecimento do ceratocone.
Considerações finais
Como você pôde ver, o ceratocone é uma alteração degenerativa da córnea que pode ser controlada quando o tratamento é realizado rapidamente.
Caso contrário a doença pode evoluir e chegar ao limite, exigindo a necessidade do transplante de córnea.
Por isso, se você quer evitar ser surpreendido por esse tipo de problema visite sempre o seu oftalmologista para que o ceratocone seja diagnosticado e tratado rapidamente.